IGREJA E CULTURA - CONTEXTUALZAÇÃO

O missionário é quem melhor encarna o estilo de vida de Jesus que o cristianismo exige, segundo o teólogo e missionário católico belga José Comblim, em seu Comentário da Carta de Paulo aos Filipenses. Mas, precisamos de “mensageiros humildes do Evangelho” como procurou a Comissão de Lausanne no Relatório de Willowbank. 
Paulo convida-nos pelo seu exemplo. Consciente da presença demoníaca na idolatria (para ele ídolos eram demônios), como escreveu na primeira carta aos coríntios, em Atenas sua aproximação nos ensina como devemos agir na evangelização. Diante do panteão de deuses da cidade, em vez de começar pela crítica, o apóstolo prefere valorizar o fato de serem os atenienses muito religiosos.
Lourenço Stelio Rega, em abordagem sobre a contextualização na igreja local, vê nessa atitude um modelo de aproximação saudável para igreja e cultura. Encorajado por reflexões como essas, busquei na memória muitos significados dos festejos juninos para a formação do nordestino. 
Antes de criticar a idolatria ou tantos outros traços "demoníacos" desta festa, procuro sondar por trás dos símbolos, os sentimentos; antes de ver a cultura, sentir com as pessoas. Sendo mais direto, este dia, 23 de junho, véspera de "São João", é um passaporte para o baú de recordações da minha infância. 
Minha avó materna, por causa das complicações de parto fez uma promessa ao "santo". Em cumprimento, meu tio, nascido no dia 24, chama-se João. Casa enfeitada, fogueira, dedos queimados com fogos de artifício e ela sentada à tardinha na varanda esperando alguma notícia dos filhos, principalmente dos migrantes, também com nome de santo: José e Antônio. Este último, conseguiu com um padrinho a viagem para São Paulo. Ainda era criança quando já contávamos vinte anos sem o reencontro. 
Por isso, festa junina e joanina para mim, é tempo de matar a saudade, tempo de celebrar os vínculos familiares que adoçam a canjica, a alegria de assar o milho ou tomar o mingau de tapioca. Tempo de esperança e reconciliação. 
Luiz Gonzaga, cujo centenário é comemorado este ano, traduziu na música o sentimento de ser nordestino. Na música "Riacho do Navio", ele cristalizou o complexo de emoções que minha família viveu durante décadas por conta da migração provocada pelas desigualdades regionais e do desprezo político intencional amargado. 
O “peixe” quer voltar. Porque o brejinho é ambiente utópico, lugar e não-lugar da realização integral, da identidade que dá significado à vida, lá não se sente frio. Mas o rádio, com as notícias das terras civilizadas, são um desafio constante a esse encontro com as raízes.

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