DESCOBRINDO UMA NOVA EVANGELIZAÇÃO (2)




A educação também estava a serviço da missão. Muito cedo surgiram as primeiras escolas e institutos evangélicos, como consequência da perseguição dos filhos de protestantes nas escolas públicas e católicas. As escolas eram verdadeiros centros de pregação da moral evangélica. E era exatamente o caráter moral do ensino evangélico que levava as pessoas a busca-las para seus filhos. Estes espaços “catequizadores” serviam também para recrutar e selecionar jovens brasileiros para o ministério pastoral. 

Nisto residiu um dos grandes segredos do sucesso destas missões: arregimentação de brasileiros, que eram consagrados para a missão. Esta constatação é apresentada José Nemésio Machado em seu livro Educação Batista no Brasil: uma análise complexa, publicado pela editora do Colégio Batista Brasileiro de São Paulo.
A ênfase denominacional constitui-se numa característica da missão protestante. Cada iniciativa missionária se entendia como pioneira. Steuernagel, no estudo citado, vê aí uma das causas para o divisionismo protestante: “Este denominacionalismo em concorrência criou uma população evangélica flutuante. O rápido avanço evangelístico não conseguia levar o novo crente a uma suficiente consolidação da fé. Assim surgiu uma migração de uma denominação para a outra, de acordo com as ofertas e necessidades dos fiéis”. Sua conclusão neste ponto é que como consequência deste progresso inicial sem um cuidado efetivo, tem-se um conhecimento bíblico superficial e uma ética limitada e importada.
As congregações protestantes se multiplicavam na corrida das muitas denominações em busca de um povo. Cada organização eclesiástica estava desafiada a levar sua missão a cada cidade brasileira. O importante era o crescimento numérico, os resultados estatísticos. O Brasil do ponto de vista protestante era uma terra de “promoção missionária”. Criticamos a cruz e a espada das caravelas católicas, mas reinventamos as cruzadas, passando de perseguidos a caçadores de bruxas. Quem chegou empoeirando os pés no sertão do país acomodou-se na gestão de empresas e dividendos.
Israel Belo de Azevedo em seu livro A Celebração do Indivíduo – a formação do pensamento batista brasileiro afirma que desde sua formação, os batistas desenvolveram um espírito de expansão missionária aliado a uma exacerbação da doutrina da natureza espiritual da missão da Igreja. 
A denominação batista sucumbiu à tentação de reduzir o Evangelho de Jesus meramente ao nível “espiritual” e limitou sua ação eclesiástica no Brasil às bandeiras do conversionismo e do salvacionismo, seguindo o mesmo caminho de outras expressões do protestantismo. Assim, deu-se lugar ao atrofiamento do senso de missão, relegando o engajamento na luta pela justiça social ao mero assistencialismo.
Em consequência, a igreja evangélica, de raiz peregrina, institucionalizou-se. Das congregações às convenções ou sínodos, dos leigos aos oficiais da igreja. Passaram de uma organização simples e funcional a uma estruturação mais adequada ao crescimento rápido e abundante. 
A presença e os investimentos protestantes visavam em primeiro lugar o bem-estar da própria denominação, sua sobrevivência e expansão geográfica. Em contrapartida, a missão protestante relegou a um segundo plano o transpor as barreiras sócio-econômica-culturais que dividem o povo em estratificações e mundos distintos.
Quando a evangelização torna-se refém do poder político, seja estatal ou denominacional, deixa de ser anuncio da liberdade e passa a ser instrumento de escravidão.
O Brasil necessita da obra evangelizadora da igreja de Cristo, do anúncio da esperança, da comunicação e vivência da alegria para quem permanece Nele. Mas para isso, a unidade deve ser a expressão da centralidade de Cristo na vida da igreja. Ademais, é nossa missão, além de anunciar a libertação, praticar e lutar pela justiça.
Com as palavras do Dr. Ágabo Borges, em discurso por ocasião da posse do novo Reitor do Seminário Teológico Batista do Nordeste (Feira de Santana-BA), Pr. Geremias Bento, poderíamos dizer que a unidade é um método evangelístico não em estruturas hierárquicas, mas em organismos de serviço. 
Em tempos de comemoração ou protesto pelos 512 do Brasil urge descobrirmos uma nova evangelização que terá como distintivos a imitação da vida de Jesus, a proclamação do Seu Reino, que já foi inaugurado e a vivência da fé que nos leva a permanecer nEle em unidade com Seu Corpo cuja missão é transformar o Brasil.



FONTES:
ANDRADEE, Caludionor de. Teologia da Educação Cristã, CPAD.
STEUERNAGEL, Valdir. Igreja – Comunidade missionária, ABU.
AZEVEDO, Israel Belo de. A Celebração do Indivíduo.
SOUZA, Ágabo Borges de. Cooperação como proposta de unidade no sistema convencional. O Batista Baiano, Ano LXXXI, nº 98.
MACHADO, José Nemésio. Educação Batista no Brasil.

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