IGREJA E CULTURA - ENTRANHAMENTO
A experiência de pastorear a Primeira Igreja Batista em Catu-BA tem-me permitido (ou exigido) um mergulho em aspectos da cultura nordestina ou um retorno a eles, uma vez que minha origem é a zona rural de Itamari-BA.
Catu nasceu agrícola, há 144 anos, e tornou-se petrolífera a menos de meio século. Mesmo com o êxodo rural, impulsionado por essa nova atividade, a cidade preserva forte influência do campo. Posso sentir na cosmovisão dos membros da igreja.
O processo de favelização da cidade em decorrência dos problemas de planejamento foi bem retratado em matéria do site Retratos de Catu (aqui). Contudo, a cidade ainda mantém um perfil mais identificado com a cultura do interior do Nordeste do que outras cidades da Região Metropolitana de Salvador, a exemplo de Camaçari-BA, onde pastoreei até dezembro de 2010 a Igreja Batista Sião.
Nas últimas semanas tenho direcionado algumas leituras sobre a relação entre Evangelho e Cultura e aproveito a época dos festejos juninos, tão característica do Nordeste, para refletir sobre a relação entre igreja e cultura, a necessidade de identificação cultural para uma vivência relevante do Evangelho; para uma evangelização com significado.
Cultura é a transformação da natureza, é todo fazer humano transmitido de geração em geração. Segundo H. Richard Niebuhr, “é o ambiente artificial e secundário que o homem sobrepõe ao natural”. O antropólogo norte-americano Edward Burnett Tylor definiu assim:
“Cultura, tomada em seu amplo sentido etnológico é todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.
Neste sentido, cabe ressaltar que a cultura é compreendida numa tríplice dimensão: povo, terra e história. Podemos falar, então, de cultura nordestina como identidade da região que exige da igreja um mergulho e influencia a formação e a prática da igreja no caminho para uma evangelização relevante.
Luiz Sayão, escrevendo sobre contextualização e tradição na Igreja Pós-Moderna, nos ajuda a reconhecer as características do perfil sociológico dos nossos dias. Ele lembra que o povo brasileiro encara a vida de maneira festiva e gosta de ter prazer naquilo que faz. A casa brasileira não é apenas para repouso, alimentação e abrigo, mas é um lugar moral onde ocorre a realização integral e o desenvolvimento da identidade do brasileiro.
Reconhecer esses elementos é o começo do processo de “entranhamento” exigido pela missão da igreja a exemplo de Jesus quando teve compaixão do povo, movendo-se nas "entranhas”. Cultura é expressão da vida natural, faz parte da história e da identidade das pessoas. Amar pessoas significa amar sua cultura também.
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Pr. Petronio Borges