QUANDO O SOM DA TROMBETA ECOAR

Das poucas lembranças que guardo da primeira infância na zona rural de Itamari-Ba, as mais vivas remetam a melodias do Cantor Cristão que ecoavam do sobrado onde a igreja se reunia, na casa do irmão João Inácio, dono da fazenda. Depois, já morando na sede do município, passei a adolescência aprendendo outras músicas do hinário. Dentre elas, ficou gravada, pela voz maviosa do Pr. Osias Antônio Lima, a do hino 114, “A Vinda do Senhor”. A mensagem bíblica comunicada pela letra afirma: “Como foi para o céu, Jesus Cristo há de vir/Quando o som da trombeta ecoar/Quando a voz de um arcanjo no céu estrugir/Eu irei com Jesus me encontrar”. A nossa compreensão sobre a Volta de Cristo é limitada, mas a expectativa do encontro está fundamentada nas Escrituras e permite-nos viver a esperança da glória. 

Interessados em precisar o tempo da restauração de Israel, os discípulos aprenderam sobre a limitação das suas expectativas diante o fim: “Respondeu-lhes: A vós não vos compete saber os tempos ou as épocas, que o Pai reservou à sua própria autoridade” (Atos 1:7). Quando contemplavam a ascensão do Senhor, os mesmos foram orientados pelos anjos: “Varões galileus, por que ficais aí olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (1:11). 

A atual conjuntura mundial nos apresenta uma ameaça: uma guerra química ou biológica torna-se uma possibilidade cada vez mais ameaçadora. O terrorismo e a violência urbana são feridas abertas para as quais não se consegue encontrar cura. Como disse Russel Shedd em sua Escatologia do Novo Testamento, estes são alguns eventos que despertam o interesse milenar pelos “tempos do fim”. 
Os seguidores de William Miller e Charles Russell nos Estados Unidos propuseram interpretações e datas para o retorno Jesus em 1918, 1925 e 1975. Também os pentecostais e grupos históricos fundamentalistas continuam investindo em previsões, embora seu discurso tenha perdido vigor. Podemos criticá-los de equivocados, desconhecedores da história ou conformistas na sua visão política. Devemos, no entanto, considerar suas perguntas e buscar respostas em nossa compreensão da fé cristã. 
De acordo com a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, o mal será completamente vencido e surgirão o novo céu e a nova terra para a eterna habitação dos remidos com Deus. Em cumprimento à sua promessa, Jesus Cristo voltará a este mundo, pessoal e visivelmente, em grande poder e glória. 
Por certo, o futuro não será continuação do presente. Na cruz, a fé antecipa o destruição do mal. Com a ressurreição tem início uma nova vida e uma nova criação. A Segunda Vinda trará a crise definitiva da história. “Nós, porém, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e uma nova terra, nos quais habita a justiça” (2 Pe 3:13). 
Ninguém sabe o dia e a hora derradeira. A Bíblia não possui nenhum código secreto que permita desvendar os mistérios de Deus sobre o futuro. Assumindo a posição de filho, de servo, de humano, limitado, Jesus nos ensinou sermos incapazes de prever o futuro. Além disso, é infrutífera a elaboração de cálculos que estabeleçam um calendário para a vontade de Deus. “Quanto, porém, ao dia e à hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu nem o Filho, senão o Pai” (Mc 13:32). 
Vivemos o tempo da graça. Deus continua derramando seu amor e justiça no mundo. Enquanto esperamos a plenitude do Reino já inaugurado, contemplamos a longanimidade de Deus para com os perdidos. “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pe 3:9). 
O sinal mais claro que aponta o fim é a evangelização universal do mundo. Para Jesus, catástrofes naturais, falsos profetas, traição e ódio dentro da comunidade de fé e conflitos mundiais são apenas o princípio das dores. A indicação mais eloquente dos últimos tempos é a expansão missionária mundial. “E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”. (Mt 24:14). 
Mesmo o apóstolo Paulo também cultivou uma expectativa equivocada sobre os eventos escatológicos (1 Ts 4:15). Aprendemos com ele que a igreja, limitada diante do conhecimento do futuro, deve empoeirar os pés na terra tirando os olhos das nuvens. O que nos cabe agora é servir, amar, agir. O nosso tempo é hoje. Somente assim poderemos cumprir a missão de testemunhar o Evangelho no poder do Espírito. Paulo é um exemplo de fervor missionário como consequência da esperança da vinda de Cristo.

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