A CONFISSÃO DE FÉ DA IGREJA

Apesar de ser a fé pessoal é necessária para a igreja uma confissão coletiva. Por certo a fé é atitude subjetiva, fundada na existência do indivíduo, fruto de sua experiência com a vida, é incondicional. É mais o que se vive e menos o que se diz. Em seu livro a dinâmica da fé, Paul Tillich conceitua fé “como estar possuído por aquilo que nos toca incondicionalmente”.
Mas fé também é credo, fórmula doutrinária, símbolo, declaração de uma comunidade, o consenso acerca do que se crê expresso numa formulação inteligível e comunicável. Uma confissão identifica o grupo que a ela aderi e traduz sua experiência histórica, esclarece suas características, vínculos e posições. A igreja marcha para onde sua fé orienta. Sua declaração doutrinária revela sua trajetória e define seus rumos.
Apesar do desgaste, dos abusos, dos reducionismos que tem enfrentado, a fé cristã renova-se de maneira extraordinária. Será sempre necessária, no entanto, uma revisão dos fundamentos para mantermos uma postura crítica diante dos incrementos religiosos, dos vícios institucionais acrescentados a esta declaração em seu percurso.
Por ser o centro da história, Jesus é alvo de múltiplos olhares. Para os judeus, um simples rabino do primeiro século. Para os mulçumanos, apenas um profeta. Para os acadêmicos, um humanista. Para os espíritas, um iluminado. Para os ateus, no máximo um referencial ético. Mas a igreja o reconhece como único e suficiente Salvador e Senhor.
A síntese mais concisa e mais perfeita da fé cristã é esta: JESUS CRISTO. Esta é a confissão mais simples e mais livre a ser adotada pela igreja cristã. Quando a pronunciamos inserimo-nos numa tradição de fé que atravessou a história entrando no terceiro milênio em franca expansão.
A pergunta feita ao batizando como parte da celebração do batismo, sua pública profissão de fé, deve continuar a mesma: você crê em Jesus Cristo? Esta oportunidade privilegiada ensina ao catecúmeno que confissão de fé é mais o perfume a ser exalado na vida (2 Coríntios 2,15), é mais uma carta viva a ser lida nas ruas (2 Coríntios 3,3) do que um documento convencionado a ser decorado e repetido solenemente. Eu creio alí deve ser sinônimo de eu obedeço, eu sigo, eu vivo.
Jesus, nome pessoal, é a forma grega da palavra hebraica Josué, “Javé é a Salvação”. É a Segunda Pessoa da Trindade Santa, o Filho de Deus, Salvador da humanidade, Deus encarnado. A igreja sempre afirmou que nenhuma outra pessoa era capaz de salvar. A salvação da humanidade está condicionada à confissão do nome de Jesus. Ao afirmar Jesus a pessoa já declara que “Deus é a salvação”.
Pedro declarou ao coxo na porta do templo: Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda” (Atos 3,6). Depois, em defesa diante dos seus acusadores, o mesmo apóstolo declarou,: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4,12). Os apóstolos enfrentaram a oposição dos líderes judeus com a autoridade de quem havia convivido com Jesus. A experiência da salvação inicia o salvo imediatamente no serviço do Reino, pois o seu Salvador passa a ser, automaticamente o Senhor a quem deve a vida.
Cristo, ungido, forma grega da palavra hebraica Messias. Título oficial de Jesus. Denota que Jesus foi credenciado como o Salvador dos homens, qualificando-o para esta função. Isaías profetizou: “O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados” (Isaías 61,1 - RA).
Esse título revela o senhorio de Jesus, pois Deus o ungiu como Aquele que combina as funções de Sacerdote, Profete e Rei. Jesus é o Cristo por cumprir todas as profecias e realizar milagres confirmados pelas Escrituras. No sermão inaugural da igreja, Pedro confirmou: “O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro. Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados” (Atos 5,30-31).
Reconhecer Jesus com o Cristo é um ato de fé, gerado pelo Espírito Santo e evidencia o novo nascimento. Assim Paulo ensinou aos Coríntios: “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1 Coríntios 12,3). João também insistiu nisso: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido” (1 João 5,1).
A chamada confissão de Pedro em Mateus 16,16 dramatiza essa verdade: “Tú é o Cristo”. A confirmação por Jesus desta declaração de fé como revelação de Deus ensina sobre a sua expectativa quanto aos discípulos. Ele veio para ser Salvador e Senhor. A igreja prossegue por ter um Senhor. O nome Jesus Cristo confirma esta verdade. Tanto sua pessoa, ser o Filho de Deus, quanto sua obra, ter sido ungido por Deus, encorajam a igreja a seguir incansavelmente.
Esta declaração de fé deve ser o fundamento para a missão da igreja. Jesus salva os perdidos transformando-os em servos. Ele é recebido pelos crentes, mas exige que sejam discípulos. Por isso a missão da igreja, gerada pela fé em Jesus Cristo é anunciar, mas também ensinar. Como saber se somos cristãos? Certamente a resposta a essa pergunta vai além da capacidade de proferir duas palavras, de usar uma expressão com poderes mágicos, de seguir uma tradição confessional. É cristão quem tem uma experiência viva de discipulado com Cristo.
O reverendo anglicano John Sttot, no I Congresso Internacional de Discipulado declarou: “A verdade é que nos mercados religiosos da nossa época a muitos “jesuses” disponíveis. A maioria deles são cristos falsos, distorcidos, são simples caricaturas do autêntico Jesus no Novo Testamento. Esse grande Jesus não é aquele que carregamos por aí no bolso, como uma seringa hipodérmica. Não! Longe de nós esses “jesuses” insignificantes e pigmeus – Jesus, o palhaço; Jesus, o astro; Jesus, o messias político; Jesus, o revolucionário; Jesus, o reacionário – se é isso que pensamos de Cristo e se é esse Cristo que proclamamos, não é de admirar que continuemos imaturos. Onde, então, encontramos o Jesus autêntico, para crescermos em nosso entendimento sobre Ele e em nosso relacionamento com Ele? A resposta é evidente: Nas Escrituras. A Bíblia é o retrato de Deus do Seu Filho, fotografado pelo Espírito Santo”.
A fé pessoal traduzida numa confissão oferece à igreja o Norte da sua caminhada. Expressa o coração da sua vida comunitária, sua missão de transformação do mundo. A vida na igreja dever a tal ponto cristocêntrica, de tal maneira jesuânica, que um membro da comunidade possa reverentemente dizer: minha fé é Jesus Cristo. Esta é confissão simples e livre da igreja.

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