UM PASTOR NO TERCEIRO SETOR


Assumi o pastorado da PIBCATU em janeiro de 2011. O chamado para este ministério trouxe consigo o desafio de iniciar uma jornada, ao mesmo tempo inédita e desafiadora, no campo da gestão social.

Há mais de 40 anos a PIBCATU está envolvida no Terceiro Setor, como é designado o campo de atuação das organizações da sociedade civil, as iniciativas privadas de interesse público. Depois de começar com um simples clube de mães a Igreja fundou a Sociedade Cristã de Educação – SOCE, mantenedora da Escola Educacional Batista – EEB. 


No inicio da gestão escrevi uma carta de apresentação para os associados cadastrados depois da reforma do estatuto social. 

Esta Escola se notabilizou na cidade e tornou-se uma referência, principalmente na educação infantil. Recebeu o título de utilidade pública municipal e hoje, a presença da igreja na cidade é fortalecida pela Escola na vida dos alunos e suas família, passando a ter influência na vida do município na medida em que essas crianças cresceram e começaram a participar da vida pública. 

Encontrei essa realidade ao chegar e me vi diante do desafio de conjugar, com a função pastoral, atribuições de gerenciamento de entidades beneficentes. Como pastor, sentia-me preparado para liderar uma igreja, mas o que se exigia ia além. 

Entendi que ninguém sozinho é dotado de todas as 
competências e habilidades e precisava conhecer potenciais a serem explorados e limitações a serem enfrentadas na minha formação. Por isso, tem sido um exercício de muita dependência de Deus, de estudo e reflexão contínua assim também de humildade para aprender o novo a todo o momento. 

Com esta disposição tenho enfrentado a realidade difícil a que se submetem as organizações da sociedade civil no Brasil. A relação entre o Estado, os contribuintes-beneficiários e as entidades beneficentes impõe severas exigências a qualquer organismo que pretende atuar na área. Queremos oferecer gratuitamente a mão a quem está vulnerável. Mas o Estado é que determina quem são os beneficiários e para conceder o desconto em impostos escorchantes faz exigências que nem mesmo os governos cumprem. 

Por isso, a permanência da PIBCATU na atuação social depende de uma reformulação completa do seu projeto, uma adequação às exigências legais para o terceiro setor e o cumprimento de obrigações rígidas e pesadas. Diante desse quadro, venho refletindo sobre a posição de um pastor à frente de uma organização do Terceiro Setor ou na liderança de projetos sociais e identifico três posturas que tem servido de balizamento para decisões nesta área: 


1 – AGIR DE ACORDO COM A VISÃO BÍBLICA PARA A RELAÇÃO IGREJA-ESTADO. 

A causa para os principais problemas de igrejas que atuam no Terceiro Setor com a Receita Federal e os órgãos de controle e regulamentação está nas distorções teológicas, na interpretação bíblica equivocada.
Por isso faço sempre a revisão das bases bíblicas da teologia que orienta minhas ações. 

Vejamos, por exemplo, o princípio aplicado por Jesus diante de pergunta sobre o dever de pagar impostos ao Império Romano deve servir de referencial: “Mostrem-me a moeda usada para pagar o imposto”. Eles lhe mostraram um denário, e ele lhes perguntou: “De quem é esta imagem e esta inscrição?” “De César”, responderam eles. E ele lhes disse: “Então, dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. (Mateus 22,19-21). 

Em outra ocasião, diante da dúvida sobre sua obrigação com o imposto do Templo, Jesus ensinou a Pedro a lição que devemos praticar hoje. Quando estamos diante de uma obrigação, Deus nos dará os recursos suficientes para honra-la. “Por isso vá até o lago, jogue o anzol e puxe o primeiro peixe que você fisgar. Na boca dele você encontrará uma moeda. Então vá e pague com ela o meu imposto e o seu” (Mateus 17,27). 

É devido? Pague-se. E os recursos? Deus dá com abundância. A atuação social ou mesmo a vida devocional não pode ser moeda de troca diante de Deus para encobrir sonegação de impostos ou crimes contra a ordem tributária. 

As igrejas devem avaliar muito bem se estão dispostas criarem uma organização social por que uma vez inseridas neste contexto estarão sujeitas aos rugidos do Leão. E este Leão, diferentemente do outro, o Diabo, não será expulso com exorcismo. Para acalmá-lo (mas, nunca domá-lo) o único remédio é o percentual sobre o lucro operacional. 

2 – AGIR COM ÉTICA NOS RELACIONAMENTOS PESSOAIS E INSTITUCIONAIS.

Tenho partido do princípio de que uma vida cristã autêntica se manifesta concretamente em todas as esferas da vida, inclusive na liderança. Os mesmos princípios aplicados na administração doméstica, por exemplo, são vividos também no gerenciamento de uma instituição: comunicação, transparência, organização, participação. 

O único benefício do qual deve privar o gestor de uma organização social, além do aprendizado de vida e conhecimento na área, é servir. Mas infelizmente, entidades beneficentes transformaram-se refúgio para oportunistas, esconderijo de laranjas e toda sorte de contravenções que se pode imaginar. Por isso o Estado aperta o cerco, uma vez que estas instituições retém dinheiro público e eximem-se de suas obrigações sociais. 

Pensando assim, um pastor que assume esta função deve ainda mais zelar por sua conduta, suas práticas e relações. A organização não pode ser uma extensão do quintal de sua casa, nem mesmo do gabinete da sua igreja. Ele precisa ser como pessoa o que propõe que a organização seja como instituição. 

3 – AGIR RESPALDADO POR CONHECIMENTOS TÉCNICOS ESPECIALIZADOS.

O caminho é cercar-se de uma equipe técnica qualificada além de buscar capacitação contínua. Nunca me vi obrigado a saber tudo, nem poderia. Pensando assim, e orando, afinal sou um gestor-pastor, Deus nos agraciou com um diretor para a EEB que é pastor, mas, antes de ser ordenado, viveu trabalhou e liderou em empresas, inclusive na área de educação. O Pr. Rogério Souza é a pessoa certa na função certa e tem demonstrado muita competência na gestão administrativo-financeira da Escola. 

Outra alternativa indispensável tem sido o trabalho em rede que permite a troca de experiências e o aperfeiçoamento constante. Nesta caminhada recente temos firmado parcerias com instituições que agregaram valor à PIBCATU e à SOCE. Juntos, temos encontrado soluções, melhorado os processos administrativos, e descoberto que é possível desenvolver-se com integridade. 

Como exemplo, podemos citar, na área contábil, a assessoria da empresa Brasiliano Vieira; na capacitação, em parceria com a Convenção Batista Baiana, encontramos a consultoria da Práxis Gestão Sustentável, liderada pelo pastor e professor Nenrod Douglas Santos, especialista na área; e na rede social, a REBAS (Rede Batista de Ação Social) do Departamento de Ação Social da Convenção Batista Brasileira e a RENAS, Rede Evangélica Nacional de Ação Social, representada na Bahia por Silas Santana, homem com uma visão de Reino admirável. 

Para manterem-se no Terceiro Setor as igrejas precisam escolher bem os gestores das organizações sociais que manterão. O ideal é que sejam pessoas especializadas, com tempo disponível e qualificação profissional. Os pastores poderão ser gestores desde que o sejam provisoriamente ou quando cercarem-se de uma equipe técnica competente com disposição para um trabalho de longo prazo. 

Como tem sido sua experiência na área? Conhece algum pastor no terceiro setor?

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