APOCALIPSE – COMO ENTENDER OS SÍMBOLOS


João, o Apóstolo, intentou declarar a fé cristã e manifesta oposição ao paganismo oficial de Roma. Caracteriza-se por uma visão dualista da história: o mundo atual, rebeldia contra Deus e perseguição do Seu povo é fortemente contrastado como mundo vindouro, quanto Deus intervirá para estabelecer definitivamente o seu reino. É uma profecia cunhada no molde apocalíptico e escrita em forma de carta. 
Verner Hoefelmann, respondendo à pergunta “Como entender os símbolos do apocalipse?” afirma que 70% dos versículos contêm alusões ao Antigo Testamento (principalmente Êxodo, Ezequiel e Daniel). As citações nos remetem a momentos de crise na caminhada do povo de Deus. A mensagem deixada assegura que diante das ameaças à sobrevivência no presente, a igreja cristã poderia esperar na intervenção de Deus, que nunca abandonou o seu povo fiel. 
Apocalipse é filho da profecia e tem interesse escatológico. Ocupa-se de um desenvolvimento histórico e anuncia a providência de Deus em ação no presente, com o juízo sobre o mundo e a felicidade sem fim no futuro (HARRINGTON). 
Os primeiros três capítulos são “cartas às sete igrejas”, mensagens proféticas para julgar o estado espiritual das igrejas e incentivando a conservação da fé. Esta parte do livro aproxima-se mais da forma profética do que da apocalíptica. 
A segunda parte do livro pode ser considerado um comentário das palavras de Jesus aos discípulos: “No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33) (HARRINGTON). 
William Hendriksen defende um sistema de interpretação do conhecido como paralelismo progressivo. Anthony A. Hoekema, no livro Milênio: significado e interpretações, explica que, se acordo com este ponto de vista, o livro consiste de sete secções paralelas entre si, cada uma descrevendo a igreja e o mundo desde a época da primeira vinda de Cristo até a da sua segunda vinda. Além das referências a eventos, pessoas e lugares da época em que o livro foi escrito, suas recomendações são válidas para a igreja hoje. 

1ª – 1 a 3 – visão do Cristo ressurreto e glorificado no meio dos sete candeeiros de ouro e a ordem para escrever as sete cartas às sete igrejas da Ásia Menor; 
2ª – 4 a 7 – A visão dos sete selos com os julgamentos divinos sobre o mundo; 
3ª – 8 a 11 – As sete trombetas de julgamento com a igreja vingada e vitoriosa; 
4ª – 12 a 14 – Visão da mulher dando à luz enquanto o dragão espera para devorá-lo, alusão ao nascimento de Jesus e à oposição de Satanás à igreja; 
5ª – 15 a 16 – Descreve as sete taças da ira sobre os que permanecerem impenitentes; 
6ª – 17 a 19 – Apresenta a queda da Babilônia e das bestas, secularismo e impiedade em oposição ao Reino de Deus 
7ª – 20 e 22 – Narra o fim do dragão, o triunfo final de Cristo e da igreja no universo restaurado; 

Existe um grau de progressão escatológica entre as secções (p.ex. 1,7; 6,12-17 e 20,11-15 / 7,15-17 e 21,1-22,5) bem como entre a primeira metade (1-11) com a luta de Cristo e da igreja contra os inimigos na terra, e a segunda (12-22) com um fundo espiritual mais profundo. 
Partimos agora para uma abordagem geral dos símbolos utilizados no texto seguindo Hoefelmann que os organizou em números, animais, aves, nomes e pessoas. 
O número três (3) representa Deus. Quatro (4), as coisas criadas. Sete (4+3) indica a totalidade de um processo. Doze simboliza o povo de Deus da antiga aliança (doze patriarcas) ou da nova (doze apóstolos). 1260 dias (ou 42 meses) é a metade de sete anos. Indica um tempo com prazo certo para acabar. Quando um número é duplicado, multiplicado ou justaposto, intensifica-se o seu sentido. Assim, 24 representa os eleitos das duas alianças. 144.000 (7,4; 14,1 e 3) refere-se à totalidade do povo de Deus na antiga e da nova aliança (12x12x1.000). Este número também pode indicar os mártires, remanescente fiéis de Israel. A virgindade seria uma metáfora para a fidelidade diante do culto à besta, Roma e a religião oficial do império. 666 (13,18) pode indicar uma pretensão de totalidade (aproxima-se de sete três vezes). Uma interpretação é baseada nas letras de Nero César, primeiro imperador a perseguir a igreja, e por isso, representante dos demais. No hebraico, no lugar de numerais, as letras têm valor numérico. 
O cordeiro (13,11) é Jesus, cuja obra realiza a libertação do povo de Deus. O dragão (12;13;16 e 20) é o poder do mal que opera no mundo personificado no diabo. A besta (11;13;14;16;17;19 e 20) são os poderes terrenos que agem como instrumentos do diabo. É uma alusão clara ao Império Romano. A águia (4; 8 e 12) é a mensageira de Deus para anunciar juízo ou proteção divina. 
Babilônia (14;16;17;18) representa aqueles que oprimem o povo de Deus. No tempo de João, a cidade de Roma, também caracterizada como uma meretriz (17 e 19). A mulher perseguida (9;12;14;17) representa o povo de Deus perseguido pelo dragão, do qual nasce o Messias. Jezabel, nicolaistas e Balaão (2) seduzem as igrejas com a acomodação da prática da idolatria. Armagedom (16), palavra hebraica para “Monte Megido”, local de muitas batalhas em Israel, simboliza a batalha final entre as forças divinas e diabólicas, assim como Gogue e Magogue (20). A Nova Jerusalém (21) é um símbolo glorioso para a nova realidade que Deus vai criar no final dos tempos. 
João posiciona-se solidariamente como “irmão, e companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo” (1,9). Ele recebe ordem do Senhor da igreja para escrever o que vê (1,11). E escreve sobre tanto sobre as coisas presentes como as que acontecerão (1,19). Escreve uma carta de Amos do Noivo para a noiva amada, curada, perdoada (1,4). Escreve com a graça e a paz a ser proclamada a todas as nações que Ele é o Alfa e o Ômega (1,7-9). 
Leia esta carta mais com o coração do que com a mente. Nem todos os detalhes precisam ser entendidos com a razão. Mas todos os símbolos apontam para a mesma direção: por mais fortes que seja os poderes contrários a Deus, a vitória final pertence àquele que criou o mundo e tudo fará para conduzi-lo ao seu alvo. 


FONTES: 
CLOUSE, Robert G. Milênio – significado e interpretações. Campinas, Luz para o Caminho. 1990.b 
CULLMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento. São Leopoldo, Sinodal, 1996. 
FEE, G.D.; STUART, D. Entendes o que lês? São Paulo, Vida Nova. 1997. 
HARRINGTON, Wilfrid John. Chave para a Bíblia: a revelação: a promessa: a realização. São Paulo, Paulinas, 1985. 
SHEDD, Russel P. Escatologia do Novo Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1983. 
SILVA, João Artur Müler da (Editor), 22 perguntas e respostas da fé. São Leopoldo, Sinodal, 2000.

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