DONS E MINISTÉRIOS NA IGREJA

Os dons do Espírito Santo representam a capacitação de Deus para todos os crentes. Eles são concedidos individualmente, mas sua finalidade é o crescimento sadio da Igreja. Deus estabeleceu uma interdependência entre os ministérios cristãos com o propósito de servirmos juntos para o crescimento em unidade.

Servir com dons e ministérios é obedecer à vontade de Deus para a Igreja. Devemos exercitar a unidade da igreja e alcançar pessoas que precisam ver em nós a expressão do amor de Deus. O estudo sobre dons e ministérios na Bíblia mostra que Deus quer revelar sua glória através do serviço cristão.


A motivação para o serviço


A salvação em Cristo faz valer a pena todo esforço por parte do cristão para a vivência da comunhão na igreja. Também encoraja a enfrentar o sofrimento para testemunhar no mundo. Steve e Lois Rabey, em seu manual de discipulado “Lado a Lado”, lembram que “as pessoas que atendem ao chamado de seguir a Cristo não estão se unindo a um clube ou uma empresa; em vez disso, estão sendo incluídos no corpo de Cristo, místico e universal”.

A igreja enquanto corpo espiritual de Cristo expressa sua unidade espiritual através do amor fraternal, da harmonia e da cooperação voluntária, como afirma a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira no tópico sobre a Igreja. A motivação para o serviço na igreja passa pela vivência saudável da unidade fraterna.

A unidade e a diversidade da Igreja são obra do Espírito Santo. A Igreja é una. O Espírito habita em todos os crentes. A Igreja é multifacetada. O Espírito distribui diferentes dons aos crentes. É na dinâmica dos relacionamentos que o serviço deixa de ser um peso, uma humilhação, e torna-se oportunidade de desenvolver o Corpo. Na igreja somos ‘servos dos servos de Deus’. O amor fraternal que nos une se expressa através do serviço.


Definição de “dom espiritual”


Em 1 Coríntios 12,4-6 encontramos uma importante base bíblica para esta doutrina:

"Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos".

Identificamos aqui palavras que ajudam a definir “dom espiritual” e “ministério”:

(1) “charismata” (v. 4) - dons da graça de Deus;

(2) “diakoniai” (v. 5) - maneiras de servir;

(3) “energêmata” (v. 6) - energias, atividades.

No livro “Batismo e Plenitude do Espírito Santo”, John Stott extrai destes termos uma definição de dons espirituais como capacidades outorgadas pela graça de Deus para habilitar os crentes a exerceram ministérios específicos. O autor insiste também que não devemos traçar uma divisão muito rígida entre talentos naturais e dons espirituais. Segundo ele, o máximo que podemos assegurar é que existe, por um lado, o simples reforço uma capacidade natural e, por outro, pode ocorrer a manifestação de uma capacidade extraordinária. Isso porque Deus é o Deus da criação e da nova criação (Jr 1,5; Gl 1,15). Os recursos já presentes nas pessoas antes de sua conversão são potencializados pela ação do Espírito e orientados de acordo com novo objetivo (a causa pela qual serve e para que faz) e motivação (o incentivo que o orientam).



Tipos de dons espirituais na Bíblia


Darrell Robinson, no livro “Igreja: celeiro de dons”, identificou em todo o Novo Testamento dezenove dons divididos em três grupos: dons de sinais (milagres, curas, línguas e interpretação de línguas), dons de apoio (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, mestres, fé discernimento, sabedoria e conhecimento) e dons de serviço (ministério/serviço/socorros, exortação, administração/liderança, misericórdia, contribuição e hospitalidade). No entanto, estas listas serão sempre incompletas porque a operação do Espírito excede os limites da razão. A sabedoria de Deus é multiforme (Ef 3,10). Sua graça também é múltipla (1Pe 4,10).

Todos os dons espirituais são miraculosos?

Deus está constantemente em ação através dos processos da história e da natureza. Deus é soberano e livre. Existem situações especiais em que lhe apraz fazer milagres hoje. Mas, o Deus da Bíblia não é somente um Deus de milagres. É certo que Deus testificou da mensagem das testemunhas oculares apostólicas através de milagres. No entanto, milagres em nossos dias não servem para confirmar a revelação especial que já está completa.

Todos os dons espirituais da Bíblia são dados hoje?

Concordamos com Robinson sobre a forma como os dons espirituais se evidenciam na contemporaneidade: “existem ocasiões e lugares hoje nos quais as intervenções miraculosas de Deus ainda se fazem necessárias para o impacto do evangelho (...), Mas a história revela que, quanto maior a exposição do povo à Palavra, menor a necessidade de confirmar ou respaldar Suas verdades com sinais miraculosos. O Espírito Santo apresenta Sua própria validação no coração da pessoa que ouve a Palavra”.

Quanto a apóstolos e profetas, por exemplo, no sentido bíblico do termo não existem mais hoje, porque a autorrevelação de Deus foi completada em Cristo e no testemunho apostólico de Cristo, e o cânon da Escritura foi encerrado. Neste ponto, Stott observa: “Deus não ensina mais a Igreja através de revelação nova, mas pela exposição da sua revelação que foi completada em Cristo e na Bíblia”.


Os dons e ministérios na igreja local


Voltando a pensar na igreja local, lembremos que um dom espiritual é, portanto, não o poder espiritual isolado do contexto do serviço nem a chancela para uma determinada função ou cargo. Pensado biblicamente, dom é capacitação espiritual que qualifica uma pessoa a exercer um ministério. Mas os dons precisam ser descobertos, despertados e desenvolvidos. Eles devem ser usados para a edificação da igreja e para a evangelização.

Já citamos a palavra grega “diakonia”, traduzida por serviço ou ministério. Quem exerce um ministério é um servo, ou ministro. Na igreja todos são ministros. Quando uma ou mais pessoas estão diante de uma necessidade e respondem com os seus dons, nasce um ministério. A organização do serviço da igreja deve acontecer em função dos dons e ministérios.

Duas verdades são, portanto, imprescindíveis para a reflexão bíblica acerca de dons e ministérios:

(1) o Novo Testamento nos garante que todo cristão tem pelo menos um dom ou capacitação para o serviço, por mais adormecido ou desusado que seja (Rm 12,3;6; 1Co 12,11; Ef 4,7; 1Pe 4,10).

(2) Cada Igreja local foi capacitada por Deus com todos os dons de que precisa para sua vida, sua saúde, seu crescimento e seu trabalho.



A organização do serviço ministerial


Os ministérios não são “micro-igrejas”, mas são mutuamente dependentes, formando uma unidade. Precisamos, com humildade, dialogar quando houver divergência, negociar o uso de espaços e oportunidades no calendário, compartilhar recursos para o bem comum. A vivência da interdependência deve começar entre os líderes e se estender por toda a Igreja. Essa prática consolida a unidade e leva ao crescimento.

O serviço na igreja exige organização e essa tarefa compete prioritariamente à liderança. A orientação do apóstolo Paulo a Tito foi para colocar em ordem o que ainda não estava e, para isso, era necessário constituir uma liderança que supervisionasse o trabalho (Tt 1,5). Marcos Monteiro, em seu comentário aos Efésios, afirma que a liderança “era um presente de Cristo à comunidade para que esta, em sua diversidade de dons, fosse treinada para uma plena maturidade”.

Os ministérios podem se organizar em três áreas:

(1) adoração, serviço a Deus;

(2) edificação, serviço aos de dentro;

(3) evangelização, serviço aos de fora.

Estas áreas definem o objetivo de cada ministério e facilitam o planejamento das ações. Mesmo sabendo que as estruturas ministeriais são falíveis, por isso, provisórias, devemos usá-las com reflexão e coragem para inovar.



Ministérios que alcançam o mundo


As pessoas normalmente chegam à igreja movidas por necessidades, principalmente espirituais. Estas pessoas evitarão uma “igreja de famílias”, com divisões de poder entre grupos fechados. Elas buscarão uma igreja que cria espaços para o desenvolvimento de talentos com estruturas que valorizam o potencial humano. Depois de convertidas, terão seus olhos espirituais abertos e compreenderão que, o objetivo de Deus sempre foi o de revelar a sua glória através do serviço.

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